Entre a insónia e o despertar há um mundo de palavras respiráveis, à espera para se soltar.
Do passado à insónia, marcas foram sulcadas, rasgadas, aprisionadas. Marcos de pedra e cal, espetados, amarrados.
A insónia do passado traz consigo uma urgência de se reabilitar.
Entre a insónia e o despertar, um sono mal dormido, numa ânsia mordida, calada, dorida… parada, sofrida.
Abriu, por fim, os olhos. Viu-o. Era ele. Afinal… era ele. Era tudo tão estranho.
Olhou-a, como quem não sabe o que quer; como quem não sabe o que faz; como quem não sabe nada de nada. Era tudo tão estranho!
Ele estava ali. Ela estava ali. Frente a frente. Como num sonho, ou num feitiço, em que os dois são outros e não eles. Meses e meses de dor concentrados num momento. Meses e meses de amor prisioneiros de um olhar.
Ambos sentiram, de repente, falta de um mimo. Falta de o receber e de o dar.
José Miguel aproximou-se e tomou-lhe a mão… De olhos nos olhos e de mão na mão, todas as palavras são demais. Todos os gestos revelam as palavras não ditas.
As lágrimas acabaram por se soltar, os soluços por irromper. Ambos deram vazão à emoção que os sufocava. Nenhum dos dois conseguia falar; só o facto de estarem juntos já preenchia todo o vazio que se houvera instalado durante a longa ausência. José Miguel foi impelido a afogar o rosto no pescoço de Luísa e esta a afagar-lhe a cabeça, a apertá-lo de encontro a si. E assim permaneceram por largos minutos, até serem interrompidos. Então olharam-se ainda ébrios do que sentiam.
Como faz falta um mimo!