A dona, na cozinha, ouviu e acorreu em socorro dos indefesos.
— Malandro! Isso não se faz aos meninos, seu atrevido!
— Miau… miau!... – como quem diz “não sou culpado”, ficou ali a observar a dona a compor aquela cena tão estranha.
Frustradas as intenções do bichano, que não teve outro remédio que não o de conformar-se (conformar-se não, que ele era lá rapaz para se conformar!... eles não haviam de perder pela demora!), Bia aconchegou os ratinhos no seu ninho, vedando bem o cesto, ao mesmo tempo que repreendia o Tonecas, passando-lhe, depois, a mão pelo pêlo:
— Não se mexe aqui, ouviste? Uns bichinhos tão lindos e o menino com apetites? Ai, ai, ai!...
O Tonecas fingiu-se obediente e, amuado, ficou por ali como que a tomar conta deles. De vez em quando parecia lançar-lhes uns olhares de irmão mais velho, mas longe de se enamorar pelos ratinhos, estudava alguma forma de os meter para o bucho.
Enquanto isso, a dona foi procurar, na sua caixinha de costura, umas fitas fininhas de cores, que tinha comprado há uns tempos para uns trabalhos que não chegou a fazer. Vinham mesmo a calhar: verde, amarelo, vermelho e azul. Também havia uma fita branca e outra cor-de-rosa, mas rejeitou essas cores por lhe parecerem muito femininas… e não sabia ainda se entre os seus bebés havia meninas. Amanhã iria comprar uma gaiola apropriada para eles e enfeitá-los-ia, cada qual com o seu lacinho de seda colorida ao pescoço, para ficarem janotas. Ah, eles haviam de ficar medonhamente lindos com os seus lacinhos coloridos!
Esperava que, assim, o Tonecas os visse com outros olhos, que, afinal, eram coisa fina, intocável, e tirasse deles o sentido como petisco.